terça-feira, 1 de março de 2016

Precisamos falar sobre a vaidade na vida acadêmica

"Combater o mito da genialidade, a perversidade dos pequenos poderes e os 'donos de Foucault' é fundamental para termos uma universidade melhor"

A vaidade intelectual marca a vida acadêmica. Por trás do ego inflado, há uma máquina nefasta, marcada por brigas de núcleos, seitas, grosserias, humilhações, assédios, concursos e seleções fraudulentas. Mas em que medida nós mesmos não estamos perpetuando essemodus operandi para sobreviver no sistema? Poderíamos começar esse exercício auto reflexivo nos perguntando: estamos dividindo nossos colegas entre os “fracos” (ou os medíocres) e os “fodas” (“o cara é bom”).
As fronteiras entre fracos e 'fodas' começam nas bolsas de iniciação científica da graduação. No novo status de bolsista, o aluno começa a mudar a sua linguagem. Sem discernimento, brigas de orientadores são reproduzidas. Há brigas de todos os tipos: pessoais (aquele casal que se pegava nos anos 1970 e até hoje briga nos corredores), teóricas (marxistas para cá; weberianos para lá) e disciplinares (antropólogos que acham sociólogos rasos generalistas, na mesma proporção em que sociólogos acham antropólogos bichos estranhos que falam de si mesmos).

A entrada no mestrado, no doutorado e a volta do doutorado sanduíches vão demarcando novos status, o que se alia a uma fase da vida em que mudar o mundo já não é tão importante quanto publicar um artigo em revista qualis A1 (que quase ninguém vai ler).
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dizíamos que quando alguém entrava no mestrado, trocava a mochila por pasta de couro. A linguagem, a vestimenta e o ethosmudam gradualmente. E essa mudança pode ser positiva, desde que acompanhada por maior crítica ao sistema e maior autocrítica – e não o contrário.
A formação de um acadêmico passa por uma verdadeira batalha interna em que ele precisa ser um gênio. As consequências dessa postura podem ser trágicas, desdobrando-se em dois possíveis cenários igualmente predadores: a destruição do colega e a destruição de si próprio.
O primeiro cenário engloba vários tipos de pessoas (1) aqueles que migraram para uma área completamente diferente na pós-graduação; (2) os que retornaram à academia depois de um longo tempo; (3) os alunos de origem menos privilegiada; (4) ou que têm a autoestima baixa ou são tímidos. Há uma grande chance destas pessoas serem trituradas por não dominarem o ethos local e tachadas de “fracos”.
Os seminários e as exposições orais são marcados pela performance: coloca-se a mão no queixo, descabela-se um pouco, olha-se para cima, faz-se um silêncio charmoso acompanhado por um impactante “ãaaahhh”, que geralmente termina com um “enfim” (que não era, de fato, um “enfim”). Muitos alunos se sentem oprimidos nesse contexto de pouca objetividade da sala de aula. Eles acreditam na genialidade daqueles alunos que dominaram a técnica da exposição de conceitos.
Hoje, como professora, tenho preocupações mais sérias como estes alunos que acreditam que os colegas são brilhantes. Muitos deles desenvolvem depressão, acreditam em sua inferioridade, abandonam o curso e não é raro a tentativa de suicídio como resultado de um ego anulado e destruído em um ambiente de pressão, que deveria ser construtivo e não destrutivo.
Mas o opressor, o “foda”, também sofre. Todo aquele que se acha “bom” sabe que, bem lá no fundo, não é bem assim. Isso pode ser igualmente destrutivo. É comum que uma pessoa que sustentou seu personagem por muitos anos, chegue na hora de escrever e bloqueie.
Imagine a pressão de alguém que acreditou a vida toda que era foda e agora se encontra frente a frente com seu maior inimigo: a folha em branco do Word. É “a hora do vâmo vê”. O aluno não consegue escrever, entra em depressão, o que pode resultar no abandono da tese. Esse aluno também é vítima de um sistema que reproduziu sem saber; é vítima de seu próprio personagem que lhe impõe uma pressão interna brutal.
No fim das contas, não é raro que o “fraco” seja o cavalinho que saiu atrasado e faça seu trabalho com modéstia e sucesso, ao passo que o “foda” não termine o trabalho. Ademais, se lermos o TCC, dissertação ou tese do “fraco” e do “foda”, chegaremos à conclusão de que eles são muito parecidos.
A gradação entre alunos é muito menor do que se imagina. Gênios são raros. Enroladores se multiplicam. Soar inteligente é fácil (é apenas uma técnica e não uma capacidade inata), difícil é ter algo objetivo e relevante socialmente a dizer.
Ser simples e objetivo nem sempre é fácil em uma tradição “inspirada” (para não dizer colonizada) na erudição francesa que, na conjuntura da França, faz todo o sentido, mas não necessariamente no Brasil, onde somos um país composto majoritariamente por pessoas despossuídas de capitais diversos.
É preciso barrar imediatamente este sistema. A função da universidade não é anular egos, mas construí-los. Se não dermos um basta a esse modelo a continuidade desta carreira só piora. Criam-se anti-professores que humilham alunos em sala de aula, reunião de pesquisa e bancas. Anti-professores coagem para serem citados e abusam moral (e até sexualmente) de seus subalternos.
Anti-professores não estimulam o pensamento criativo: por que não Marx e Weber? Anti-professores acreditam em lattes e têm prazer com a possibilidade de dar um parecer anônimo, onde a covardia pode rolar às soltas.
O dono do Foucault
Uma vez, na graduação, aos 19 anos, eu passei dias lendo um texto de Foucault e me arrisquei a fazer comparações. Um professor, que era o dono do Foucault, me disse: “não é assim para citar Foucault”.
Sua atitude antipedagógica, anti-autônoma e anti-criativa, me fez deixar esse autor de lado por muitos anos até o dia em que eu tive que assumir a lecture “Foucault” em meu atual emprego. Corrigindo um ensaio, eu quase disse a um aluno, que fazia um uso superficial do conceito de discurso, “não é bem assim...”.
Seria automático reproduzir os mecanismos que me podaram. É a vingança do oprimido. A única forma de cortamos isso é por meio da autocrítica constante. É preciso apontar superficialidade, mas isso deve ser um convite ao aprofundamento. Esquece-se facilmente que, em uma universidade, o compromisso primordial do professor é pedagógico com seus alunos, e não narcisista consigo mesmo.
Quais os valores que imperam na academia? Precisamos menos de enrolação, frases de efeitos, jogo de palavras, textos longos e desconexos, frases imensas, “donos de Foucault”. Se quisermos que o conhecimento seja um caminho à autonomia, precisamos de mais liberdade, criatividade, objetividade, simplicidade, solidariedade e humildade.
O dia em que eu entendi que a vida acadêmica é composta por trabalho duro e não genialidade, eu tirei um peso imenso de mim. Aprendi a me levar menos a sério. Meus artigos rejeitados e concursos que fiquei entre as últimas colocações não me doem nem um pouquinho. Quando o valor que impera é a genialidade, cria-se uma “ilusão autobiográfica” linear e coerente, em que o fracasso é colocado embaixo do tapete. É preciso desconstruir o tabu que existe em torno da rejeição.
Como professora, posso afirmar que o número de alunos que choraram em meu escritório é maior do que os que se dizem felizes. A vida acadêmica não precisa ser essa máquina trituradora de pressões múltiplas. Ela pode ser simples, mas isso só acontece quando abandonamos o mito da genialidade, cortamos as seitas acadêmicas e construímos alianças colaborativas.
Nós mesmos criamos a nossa trajetória. Em um mundo em que invejas andam às soltas em um sistema de aparências, é preciso acreditar na honestidade e na seriedade que reside em nossas pesquisas.
Transformação
Tudo depende em quem queremos nos espelhar. A perversidade dos pequenos poderes é apenas uma parte da história. Minha própria trajetória como aluna foi marcada por orientadoras e orientadores generosos que me deram liberdade única e nunca me pediram nada em troca.
Assim como conheci muitos colegas que se tornaram pessoas amargas (e eternamente em busca da fama entre meia dúzia), também tive muitos colegas que hoje possuem uma atitude generosa, engajada e encorajadora em relação aos seus alunos.
Vaidade pessoal, casos de fraude em concursos e seleções de mestrado e doutorado são apenas uma parte da história da academia brasileira. Tem outra parte que versa sobre criatividade e liberdade que nenhum outro lugar do mundo tem igual. E essa criatividade, somada à colaboração, que precisa ser explorada, e não podada.
Hoje, o Brasil tem um dos cenários mais animadores do mundo. Há uma nova geração de cotistas ou bolsistas Prouni e Fies, que veem a universidade com olhos críticos, que desafiam a supremacia das camadas médias brancas que se perpetuavam nas universidades e desconstroem os paradigmas da meritocracia.
Soma-se a isso o frescor político dos corredores das universidades no pós-junho e o movimento feminista que só cresce. Uma geração questionadora da autoridade, cansada dos velhos paradigmas. É para esta geração que eu deixo um apelo: não troquem o sonho de mudar o mundo pela pasta de couro em cima do muro.

por Rosana Pinheiro-Machado — publicado 24/02/2016 03h37 > http://www.cartacapital.com.br/sociedade/precisamos-falar-sobre-a-vaidade-na-vida-academica

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Divulgando!!

Olá pessoal;
Boa tarde!A equipe do GEPSS está com a proposta de socializar as noticias e informações que recebemos da área. Semanalmente estaremos postando aqui no blog e no face.
Assim, encaminho para conhecimento de todos o link a respeito da “II Jornadas de Género y Diversidad Sexual”. Para mais informações acesse o site: www.ts.ucr.ac.cr/ts.php 

Abraços! 



terça-feira, 3 de novembro de 2015

Oficina Nacional da ABEPSS

Olá pessoal,
Boa tarde!
Encaminho para conhecimento de todos o link a respeito da Oficina Nacional da ABEPSS, que ocorrerá entre os dias 04 e 05 de novembro de 2015, nas dependências da Faculdade de Serviço Social da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). 
Segue o link: http://oficinanacionalabepss.blogspot.com.br/

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Retomando o Blog

A última postagem do Blog ocorreu no ano de 2012, contudo, neste ano de 2015, o Gepss (Grupo de Estudos e Pesquisas em Serviço Social) colocou como um dos propósitos retomar o Blog. Acreditamos que o mesmo é um importante instrumento de socialização de estudos, pesquisas, eventos e encontros que desenvolvemos. Assim, ideias e sugestões serão bem-vindas!
Neste primeiro semestre de 2015 o Gepss realizou alguns encontros e atividades, que vinham acontecendo quinzenalmente nas segundas-feiras às 14horas. Deixo abaixo a imagem do primeiro e ultimo cronograma. Lembrando que o cronograma sofreu alterações, mas o objetivo aqui é apresentar, de forma simples, o que realizamos neste primeiro semestre de 2015.

Nesta postagem, aproveitamos para fazer o convite para o próximo encontro do Gepss, que ocorrerá no dia 22/06/2015 às 14hs no CSE (Centro Sócio Econômico) - Bloco C - Sala 205. Além do encontro, teremos os “Diálogos Abertos” com a professora do Departamento Dra. Helenara Silveira Fagundes.




domingo, 27 de maio de 2012

“Diálogos Abertos: Conversa com...”

O Projeto "Diálogos Abertos: Conversa com..." tem como objetivo promover a aproximação e a troca de experiências entre os acadêmicos e os professores da graduação e da pós-graduação cuja trajetória esteja vinculada ao Serviço Social. 
Pretende conhecer a trajetória profissional dos docentes e os caminhos que percorreu nesse processo; conhecer os trabalhos, pesquisas e estudos que estão sendo realizados pelos professores convidados e criar um momento de diálogo e reflexão sobre o Serviço Social.

domingo, 27 de novembro de 2011

Próxima reunião

Nos últimos anos, uma série de experiências e lutas favoreceu que a população em situação de rua entrasse na pauta das políticas públicas exigindo respostas mais efetivas a esta problemática, principalmente, reconhecendo esta população como sujeito de direitos. Por caminhos diferentes, na UFSC e fora dela, na assistência e na saúde vários colegas que participam do GEPSS têm tido envolvimento efetivo com este segmento populacional. 

Preocupados com esta questão, as deficiências em nossas políticas públicas e em nossa formação profissional, decidimos por desenvolver um projeto voltado a esta questão, com um recorte inicial de pesquisa, mas que seja estratégica para as políticas desta área. Neste sentido e direção, consideramos que esta iniciativa não pode ficar restrita ao nosso grupo, há que ser construída uma ação estratégica interdisciplinar e articulada aos diferentes serviços e sujeitos, inclusive a própria população.
Por este motivo convidamos os colegas deste setor e interessados para participarem de nossa reunião a realizar-se no dia 01/12/2011, as 18hs, na sala 201 (prédio pós-graduação CSE/UFSC).
Neste dia, no primeiro momento faremos a exposição de nossa proposta ainda em construção e, em seguida, a colega A.S Ciberen Ouriques estará apresentando sua pesquisa realizada em Porto Alegre-RS sobre o perfil da população em situação de rua.

Contamos com sua participação!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Diálogos Abertos: Conversa com a Profª Maria Teresa Santos

Data: 06.10.11
Hora: 18h
Local: Prédio do Programa de Pós Graduação em Serviço Social.  Sala: a confirmar

O Projeto "Diálogos Abertos: Conversa com..." tem como objetivo promover a aproximação e a troca de experiências entre os integrantes do GEPSS, acadêmicos e os professores da graduação e da pós-graduação cuja trajetória esteja vinculada ao Serviço Social.


Ainda, prentende conhecer a trajetória profissional dos docentes e os caminhos que percorreu nesse processo; conhecer os trabalhos, pesquisas e estudos que estão sendo realizados pelos professor convidado e criar um momento de diálogo e reflexão sobre o Serviço Social.




Você é convidado a participar conosco deste encontro!!